terça-feira, 12 de agosto de 2014

Resenha "El Critico", de Hernán Guerschuny

Dar um primeiro passo tão corajoso já seria motivo suficiente para saudar o estreante na direção Hernán Guerschuny. Acertar nesse primeiro passo já é algo digno de aplausos. Guerschuny sabia que tateava em um terreno perigoso, até lodoso, onde muitos cineastas já se perderam e se acabaram, mas em seu “El critico”, o diretor e roteirista acerta tanto que comove até o objeto de sua piada, o crítico de cinema.

A coprodução entre Argentina e Chile conta a história de Augusto Tellez (Rafael Spregelburd), um crítico de cinema que afirma que a sétima arte morreu, sendo extremamente duro em suas resenhas sobre as comédias românticas que permeiam o mercado atual. Fechado para a vida, Tellez se surpreende quando ele próprio se vê metido numa trama digna das histórias que tanto destrata. Ele conhece Sofia (Dolores Fonzi), uma jovem que é totalmente o contrário de sua personalidade e que não vê sentido nos “filmes ultrapassados” que ele tanto gosta.

Iniciando com um tom digno da Nouvelle Vague francesa – fotografia em preto e branco, longos planos urbanos e até offs em francês – El Critico apresenta Tellez como um homem que perdeu o gosto pela vida, assim como pelo cinema, e que analisa a tudo. Esmiuçando situações e desprezando as comédias românticas que tanto agradam todos a sua volta, o crítico mostra ter se esquecido das emoções e se isolado do mundo.

Sendo uma mistura de gêneros – como comédia, romance, drama e até suspense –,  El Critico se serve de cada um deles para tirar dali suas maiores qualidades. Mesmo optando por seguir um roteiro cheio dos clichês hollywoodianos, Guerschuny surpreende a cada momento com reviravoltas e referências a cineastas cultuados, como Jean-Luc Godard e Frank Capra. O argentino acaba por agradar então todos os lados, tantos os fãs do cinema pipoca sem compromisso, quanto os especialistas que adoram analisar.

Na trama, o contraponto para os críticos estereotipados – barbudos, de óculos, que ficam fazendo anotações durante a exibição –, está no cineasta que teve seu filme destratado por Tellez e o persegue como louco. Guerschuny, que já foi crítico, parece troçar de si mesmo, assim como de todos os seus colegas, ao confrontar críticos pedantes com cineastas maníacos. Ainda há espaço para Tellez, através de seus offs em francês, analisar o próprio filme, apontando seus “erros” e as “regras de gênero” que segue.

Mas então temos uma jovem que vive de forma independente e arrebata o coração do pobre Tellez. Antes imerso num mundo cinzento, o crítico agora se esbalda nos maiores clichês românticos, se entregando às emoções e até chorando numa sessão do típico filme que antes lhe irritava.

Mesmo assim o espectador não deve se enganar facilmente com os caminhos escolhidos por Guerschuny. Cena após cena, o diretor mostra que seu filme está longe de cair num lugar comum e o futuro de seu protagonista é incerto, apesar da “regra do gênero” dizer o contrário. Mesmo assim, antes de chegar ao final, a mensagem aqui já é visível. Na vida a emoção toma o lugar da razão e o que resta é se deixar levar, sem ser tão crítico e analítico consigo mesmo e com os outros. O colorido é melhor que o cinzento e os clichês devem ser aproveitados também. A parte chata a gente deixa para os críticos mesmo.


Giancarlo Couto, 5º Semestre Universidade Feevale

Nenhum comentário:

Postar um comentário